Notas sobre a Jordânia


Quem nunca imaginou em conhecer Petra? A famosa cidade perdida de Indiana Jones? Eu pelo menos sonhava em conhecer essa que é uma das 7 maravilhas, e a viagem para Israel foi a oportunidade perfeita para realizar esse sonho.

Pesquisando sobre a Jordânia descobrimos que o país ia muito além da cidade de pedra, o país coleciona paisagens e cartões postais únicos, alguns deles que conseguimos incluir em nosso apertado roteiro.

Antes de contar sobre as maravilhas e surpresas desse país, vou começar respondendo uma das perguntas que mais me fizeram: Como é para uma mulher viajar sozinha em um país muçulmano? A resposta nunca é simples, é na verdade uma série de reflexões das quais eu e Ana nos ocupamos por boa parte da viagem.

Vou começar explicando que eu não estava sozinha, estava com minha amiga que definitivamente não é uma mochileira iniciante, assim como eu não sou. Entretanto, não ter nenhum homem nos acompanhando faz com que as coisas mudem de figura e muda o tratamento que recebemos, afinal, estamos falando de um país em que mulheres são submissas ao extremo e tem sua inferioridade atestada pela religião que professam.

É um país perigoso? Sinceramente, não. Em momento algum me senti ameaçada, em momento algum invadiram meu espaço pessoal físico ou fizeram algo contra a gente, mas definitivamente não é a situação mais agradável andar pelas ruas da Jordânia, principalmente nas cidades menores que visitamos. Não há muitas mulheres nas ruas, e as poucas que estão por lá andam sempre acompanhadas de um homem, todas muito bem cobertas em burcas pretas dos pés à cabeça. É simplesmente impossível andar mais de 5 minutos sem que algum homem fale com você. Seja um "hello pretty" ou um convite para dar uma "carona" ou uma frase em árabe de tom nada amigável. Chegaram a nos perguntar se éramos um casal ou se tínhamos marido no Brasil. A sensação é ainda pior durante a noite, a impressão que nos passam é que mulher não deve estar sozinha a noite na rua, se estiver merece ouvir qualquer tipo de barbaridade ou ser observada a todo segundo. Em nossa última noite em Wadi Musa tentamos sair para comer, mas nos sentimos tão desconfortáveis com todos os olhares que resolvemos pedir para levar e comer no quarto.
Bem menininhas, evitando afrontes

Importante ressaltar que nós tomamos MUITO cuidado ao escolher nossas roupas nos dias em que estivemos por lá, nada de decotes, roupas justas, ombros de fora, nem um pedacinho da perna de fora, até tentamos cobrir a cabeça, mas algumas pessoas de lá nos falaram que não era aconselhável.
O mais curioso era que eu não tinha vontade de me cobrir quando algum homem falava algum absurdo pra mim, mas tinha vontade de desaparecer quando eu via uma mulher, debaixo daqueles 40 ºC, inteira de preto, só com os olhos de fora, me olhando dos pés à cabeça. Como não sentir por ela? Será que ela tem opção de viver de maneira diferente? Será que ela sabe dessa opção? Será que ela está me julgando? Ou gostaria de ser como eu? Eu me enxergava naquela mulher, já que a única diferença entre eu e ela é que eu ganhei na loteria geográfica, ganhei o direito de nascer em um lugar que me permite rodar o mundo, com meus cachos soltos, usando a roupa que eu tiver vontade.

Nosso último choque cultural veio nos últimos momentos que passamos no país. Pegamos um taxi para nos levar até a fronteira e eu perguntei  ao nosso motorista se na Jordânia era permitido ser casado com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Ele me respondeu que sim, cada homem poderia ter até quatro mulheres. Ele me perguntou sobre o Brasil e quando eu disse que aqui casar com mais de uma pessoa era ilegal ele ficou muito confuso e perguntou: Mas o que acontece quando o homem tem vontade de ficar com outras mulheres? A Ana respondeu imediatamente com outra pergunta: E o que acontece se as suas mulheres quiserem ficar com outro homem? Arrependimento instantâneo. Ele passou a discorrer sobre o apetite sexual do homem, que eles aguentam várias vezes numa noite, enquanto mulheres não tem tanta vontade assim. Nos explicou, inclusive, que eles bebem leite de camelo, que é na um Viagra natural para eles. Basicamente o que ele disse foi que a sexualidade da mulher não importava ali, mas que a do homem não poderia ser limitada. Ficamos gratas que a viagem estava chegando ao fim, muito difícil ficar calada ouvindo uma coisa dessas.

Então, como é ser uma mochileira na Jordânia? Difícil, muito difícil. Não por ser inseguro, mas por ser hostil, não apenas por observada a todo momento, mas por sentir pelo destino de outras mulheres como eu. Não se corre perigo de fato, só o perigo de um choque de cultura que demora a ser digerido.

Fora isso, a Jordânia é um destino realmente incrível.


Passamos uma noite em Aqaba, cidade grande e de muitas opções ótimas para comer, depois fomos direto para o deserto de Wadi Rum, onde passamos um dia e uma noite. O passeio começa com um curto trecho com camelos, depois nos servem um um chá bem quente e fazemos algumas caminhadas entre cânions e formações rochosas interessantes. Quando o sol chega a pino, nosso guia beduíno prepara um almoço bem típico em uma (rara) sombra o que nos dá um tempo para um cochilo. Sim, nos dormimos na areia, no meio de um deserto na Jordânia. Durante a tarde, mais cânions, mais caminhadas e um pôr do sol no deserto de areia vermelha acompanhado de mais chá. Nosso dia termina no acampamento, com comidas e canções típicas dos beduínos.
Cânions sem fim

Tentando acompanhar, mas só tentando

Café da manhã e areia vermelha

Deserto e mais deserto

O melhor almoço do mundo

No dia seguinte tomamos café da manhã no acampamento e a própria agência do Wadi Rum providenciou nosso transporte para Petra. O ideal seria chegar bem cedo à Petra e passar um dia inteiro no local, mas nosso roteiro se apertou porque queríamos voltar à Israel ainda no dia seguinte e o Shabbat nos obrigou a sair ainda de manhã da Jordânia. O resultado foi que chegamos à Petra com o pior sol possível e aguentamos pouco tempo andando pelas ruínas. Além disso, apesar das paisagens inacreditáveis, ficamos um pouco assustadas com o exagero de pessoas oferecendo todo tipo de passeio e com a quantidade assustadora de trabalhadores infantis. Chega a ser desconfortável ficar por lá com tanta gente tentando te tirar uns trocados, o tanto de bicho (camelos e burros) mal tratados e crianças naquela situação.

Se Petra vale a pena? Claro que sim, não é a toa que está entre as 7 maravilhas do mundo, mas um olhar crítico sobre o que o turismo faz as vezes é importante.

O que tem em Petra
Mas tem também...

Por fim, algumas informações práticas sobre a Jordânia:
O Jordan Pass:
Nós compramos o Jordan Pass ainda no Brasil. Trata-se de um passe que inclui o visto e ingressos de diversas atrações na Jordânia, inclusive Petra e Wadi Rum. Você precisa permanecer no mínimo 3 noites na Jordânia para ter direito ao passe. No que se refere à valores a economia foi pequena pois fomos a poucas atrações, mas a praticidade foi o mais atrativo no nosso caso. Compramos pelo site do Jordan Pass e não tivemos problema algum
Cruzando a fronteoira:
Cruzamos a fronteira a pé por Eilat, para onde fomos de ônibus. O procedimento é bem comum, mas não deixa de ser um pouco tenso. Chegar antes do por do sol é essencial pra segurança e é preciso atentar para o horário de fechamento da fronteira. Como estávamos indo de ônibus de Jerusalém, quase não conseguimos chegar a tempo. Além disso, perdemos o ponto para descer do ônibus para a fronteira e tivemos que pedir um taxi na estrada.
É preciso pagar uma taxa de saída de Israel e o visto da Jordânia é dado na hora. Li diversas histórias de terror sobre essa travessia, quase todas de funcionários da fronteira tentando passar a perna em viajantes e cobrar propina, mas acho que nosso Jordan Pass ajudou e não tivemos problema algum. Na saída da fronteira existem mil pessoas oferecendo vans e taxis para todos os destinos possíveis. Apesar de caro, foi tranquilo chegar em nosso hotel de Aqaba.
Voltar para Israel foi bem mais complicado. Sair da Jordânia não deu trabalho algum, mas entrar em território Israelense requer passar por uma inspeção bem pesada, com direito a abrir malas e tudo mais. Vá contando que vai gastar muito tempo.
Onde se hospedar:
Apesar de ser um país caro, os hoteis são muito em conta e valem mais a pena que os hostels. Em Wadi Musa ficamos no Peace Way Hotel, ótimo preço e ótimo hotel.