A Magia de San Blas - Kuna Yala
Fiquei dividida entre escrever um
relato normal sobre San Blas, com muitas informações práticas, valores e dicas
de como viajar para lá, ou escrever um relato super pisciano, recheado de histórias
pessoais/sentimentais demais, que provavelmente só fazem sentido pra mim.
Então, em comemoração ao fim dos likes do instagram, e considerando que
esse espaço é, antes de qualquer coisa, o meu lugar para me expressar e
registrar memórias, decidi passar para as palavras o que eu senti por lá, antes
de contar como chegar no paraíso (e quanto isso me custou).
Porque, sim, pra mim, aquilo é o paraíso.
Imagine uma ilha bem pequeninha, de areia branca, coqueiros inclinados
pelo vento e a água mais azul que já se viu. Tudo o que levei pra essa ilha foi
uma pequena mochila com itens de banheiro, dois biquínis, duas camisas e
chinelos de dedo, mas esse último mal fica no pé, o chão é inteiro de areia, pra
que se privar dessa sensação?
Na ilha ainda existem duas redes na sombra e algumas cabanas de palha na
beirada da praia, mas a ilha é tão pequenina que tudo parece estar na beirada
da praia. Uma dessas cabanas é toda pra mim, com uma cama, dois bancos de
madeira e nada mais. Que bom que não trouxe muita coisa, não ia caber mesmo.
Eu estava ansiosa pro momento do sol se pôr, mas ele se escondeu
atrás das nuvens logo antes de mergulhar no mar. Tudo bem, o show ficou por
conta do casal de pelicanos que dava voos rasantes na água salgada a procura de
peixes, um ritual que percebo nos próximos dias que é diário.
Estava ansiosa, também, para ver as
estrelas longe de todas as luzes da cidade, mas a lua cheia chegou tão
imponente que eu até esqueci da lanterna para escovar os dentes no banheiro a
céu aberto.
O sono chegou naturalmente, que
horas são? Oito da noite, e meu celular permanece com 98% de bateria durante
todo o dia, não há qualquer sinal de conexão, e assim vai ser, pelos próximos 5
dias. Tudo que se escuta agora são as ondas do mar, que logo se tornam
distantes, dando espaço para o sono mais profundo dos últimos tempos.
Também naturalmente, eu desperto. E
agora? Seis da manhã, celular com 97%, que coisa.
Pego meu livro, dou um bom dia pro
Ti, um bonjour pras colegas de ilha francesas e um buenos dias pro índio que
habita a ilha. Esse último é bem tímido, só responde com um sorriso. O dia está
especialmente lindo e eu resolvo deitar na areia pra ler.
Escuto um barulho distante que mais parece
uma corneta. É o índio tímido tocando uma concha, nos
chamando para o café da manhã. Pão, omelete, abacaxi e um pãozinho feito na
hora por eles, realmente eu não preciso de mais nada nessa vida.
Mais um tempo recheado de nada pra
fazer se passa e novas pessoas chegam na ilha; algumas para ficar, outras só de
passagem. Nos juntamos a eles saímos pra navegar por algumas das 365 ilhas
desse paraíso perdido. Mergulhos, peixes, corais, areia, comida boa e uma
cervejinha pra relaxar ainda mais. Não tenho um pingo de preocupação, a única
escolha que preciso fazer hoje é se quero peixe ou polvo pro almoço.
Volto pra nossa ilha, que, nesse
momento, já tem cara de casa pra mim e tomo meu banho gelado. Os demais hospedes da ilha estão por aí, presentes na hora de
jogar cartas e dividir o vinho, mas discretos nos momentos de descanso e contemplação. Parece a combinação perfeita de vida social e introspecção.
Tudo se repete, um
novo pôr do sol, os mesmos pelicanos, uma nova lua, mas agora já temos
estrelas, um sono fácil e o dia que recomeça com a mesma leveza que terminou.
Os dias em San Blas parecem se
passar em outra dimensão. Vivenciar a ilha é mais que ver paisagens bonitas, é
um estado de espírito, é estar presente, ser presente. É tirar tudo que atrapalha ver que o que realmente importa é imenso, lindo e está em toda parte. San
Blas é, sim, uma coleção de belas praias, mas é também experiência e uma presença imensa de vida.