Adeus Dinamarca





Ok, esse post está bastante atrasado, afinal, cheguei aqui há 3 semanas e muito já aconteceu. Fiquei pensando se depois de tanto tempo valeria a pena ainda escrever aqui, mas eu sou a rainha das coisas mal acabadas e não queria deixar os relatos de uma viagem pela metade, como aconteceu das duas vezes anteriores que fui pra Dinamarca e escrevi aqui.

Pois então, sim, estou no Brasil, e não parece que faz tanto tempo assim porque tudo anda tão suspenso no ar e confuso como o primeiro dia que cheguei aqui, ainda não consegui entrar na rotina, sequer definir que rumo tomarei esse semestre, mas se o blog fosse pra esse assunto se chamaria O Cansativo Destino de Luiza Padovezi e não O Fabuloso né? Então vou contar apenas dos meus últimos dias na Dinamarca:

A segunda feira já começou com jeito de despedida, todos do trabalho estavam me tratando super bem, e olha que normalmente eles já são uns fofos comigo, me deram um presente, um cartão e me chamaram para um jantar mais tarde. O meu supervisor não parava de falar que a neve chegou quando eu cheguei só porque eu amo quando neva e ele falava pra todo mundo que ia parar de nevar quando eu voltasse para o Brasil, achei uma graça. De noite fomos eu, Ole, Trine, Stine e Camilla, para um restaurante lindo na frente do porto de Svendborg e eu, como sempre, não entendi nada do cardápio e acabei pedindo a maior e pior coisa da casa, mas foi super agradável.Camilla me levou para casa e só tinha elogios a me fazer, uma fofa.

Inga, a mulher do meu conselheiro
Terça o dia foi normal, mas de tarde o meu antigo conselheiro, Arne, veio me buscar. Para quem não sabe, todos os intercambistas do Rotary tem um conselheiro para todo o ano que o ajuda para qualquer coisa que precise. O meu foi super especial, me ajudou muito e não perdemos contato durante todo esse tempo e por isso ele estava me buscando para ir na casa dele e passar a tarde com ele e sua mulher, que eu também adoro. Passamos o dia bebendo chá, comendo bolo de maça com creme e biscoitos e vendo fotos das mil viagens que eles fizeram no mês anterior. Depois Arne me levou para a reunião do Rotary que foi boa, mas longa demais, tanto que cheguei em casa morta de dor de cabeça de tanto falar e escutar dinamarquês.

Quarta de noite coloquei meus pais do Brasil no Skype com os meus pais da Dinamarca. Foi super divertido! Minha queria falar muito mais que o inglês dela permite e eu servi de intérprete, mas mesmo assim eles conversaram bastante. Birgitte chorou, Jorgen riu terrores e ambos amaram conhecer meus pais do Brasil. E pra mim foi ótimo porque as duas famílias sabem muito um do outro pelas coisas que conto, mas pela primeira vez puderam conversar de fato, cara a cara.

Ainda na quarta de noite tive a brilhante ideia de fazer brigadeiro e beijinho para levar pra empresa no dia seguinte. Ai, pra que né, eu deveria era ter ido dormir! Comecei pelo brigadeiro e das três, super difíceis de encontrar, latas de leite condensado eu usei duas. Coloquei o todos os ingredientes e na hora que fui dar aquela provadinha quase morri, que coisa HORRÍVEL! Gente, eu sou ruim de cozinha, mas não a ponto de estragar um brigadeiro do jeito que eu estraguei, aquilo tava muito errado! Quando fui ver o meu dinamarquês fanfarrão tinha me trolado mais uma vez, no lugar de achocolatado em pó eu coloquei cacau em pó, e acreditem, faz MUITA diferença. O negócio ficou com um gosto super forte e doce, tanto que fiquei arrepiando só de lembrar do gosto pelos próximos 30 minutos. Aí fiz o beijinho e deu certo. Na hora de enrolar, enrolei o beijinho e quando chegou o brigadeira cocozão já eram meia noite. Eu queria era jogar aquilo tudo fora, tava com vergonha de servir aquela coisa insuportável, mas como fiquei com fora de desperdiçar o valioso leite condensado, enrolei um terço do que fiz e joguei o resto na privada, onde era seu lugar.

O brigadeiro
A manhã do meu último dia de trabalho chegou e acordei com um aperto no coração. Achei que eu estaria aliviada, afinal, eu não teria mais que acordar as 6:00 com as estrelas ainda no céu e trabalhar 8 horas por dia sem ganhar nada, mas não foi o que aconteceu, eu percebi que ia sentir falta de verdade de tudo aquilo. No caminho da minha casa para o trabalho o dia estava lindo, como há tempos eu não via, o sol nascia e pintava o céu de laranja, tudo estava branquinho, os cataventos estavam girando e a água congelada como um espelho. Birgitte quebrou o silêncio e disse "Det er en god hukommelse af Danmark". Eu não sabia o que hukommelse significava, mas nem precisava, eu entendia, afinal, eu também estava pensando assim: "é uma boa memória da Dinamarca".

Cheguei no trabalho e deixei os doces na famosa mesa de guloseimas da Mac Baren. Todos vieram provar e, pra minha surpresa, acharam o brigadeiro a coisa mais deliciosa do mundo, ele acabou antes do almiço enquanto o beijinho mal foi tocado. Quando estava acabando tinha gente até escondendo o doce para mais tarde, eles até pediram a receita, claro que eu tive que passar a receita errada, como eu fiz, porque vai que esse povo estranho não gosta do brigadeiro de verdade né?
Nossa salinha, Ole, Stine e Trine

O dia foi cheio de fotos e despedidas. O RH da empresa, Peter, me chamou para a reunião final. Conversamos por muito tempo, ele disse que todos ali me adoraram e que o pessoal da fábrica (eu trabalhava no escritório) já estava pedindo uma "Luiza" para eles também. Disse que foi muito bom me ter ali, que eu fui a primeira intercambista deles, mas agora eles queriam receber mais, me perguntou se todos os brasileiros eram tão positivos como eu e por fim me fez o melhor elogio que já recebi "você tem uma personalidade muito dinamarquesa". Mais tarde ele passou na minha sala para me entregar o certificado de conclusão do estágio e eu comecei a ler logo em seguida. Amei tudo que ele escreveu, me elogiou muito, falou de tudo que eu fiz e até exagerou um pouco, eu fiquei muito feliz, até ler a última linha que estava escrita em letras enormes e em negrito: "Mas tomem cuidado! Ela come demais! Principalmente porco frito e pode sair muito caro!" O QUE? COMO ASSIM? Eles realmente esperam que eu coloquei ISSO no meu currículo? Já comecei a pensar no que fazer e achar que aquilo tinha sido uma perda de tempo, até que vi Peter do outro lado da sala chorando de rir da minha cara. Ele veio até mim até sem ar e me entregou o envelope com o certificado correto, com os mesmos elogios, mas sem o comentário que sou uma faminta por porcos fritos.

O dia foi terminando e um a um se despediu de mim com muito carinho. Eu fui a última a sair da sala, limpei meu computador, desliguei meu telefone, fechei minha pasta que eu montei com tanto carinho, roubei minha última bala da mesa de café e fui embora. 

Voltando pra casa tentei começar a arrumar a mala, mas logo escutei uma batida na porta e um "HEJ!" escandaloso, só poderia ser meu vizinho. Ele e a mulher vieram despedir de mim, parramos um tempo rindo muito e tomando cachaça.

Quando eles saíram começou o ritual que eu já enfrentei 2 vezes antes, mas o aperto no coração só cresceu. Birgitte fez um super jantar, com sobremesa deliciosa, conversamos por horas, rimos, Jorgen deu suas fortes opiniões sobre tudo e todos fingimos que era só mais um dia normal, até que ou Birgitte ou Jorgen perguntou:  "E aí? Pronta para voltar para casa? " E como em 2010 e em 2012, lá estava eu em 2013 respondendo "nem um pouco, quero ficar". Enrolei até o último minuto para arrumar a mala e dormi com um nó na garganta.
Meus amados host parents

Pra falar a verdade, dessa vez eu estava sim com vontade de voltar, não aguentava mais o frio e a falta de sol estava acabando comigo, também a constante falta de dinheiro e o fato de morar tão longe de tudo não me animava muito, mas não queria deixar aquilo para trás, minha família, meus amigos, minha paixonite, aquela neve, aquele mar...não queria dizer adeus mais uma vez para o país que cuidou tão bem de mim, que me ensinou tanto.

Na sexta feira, dia 15 de fevereiro, deixei a casinha amarela mais uma vez, Birgitte chorou, Jorgen mandou eu me cuidar e peguei meu último trem. Maya estava esperando por mim no aeroporto e ficou comigo até a hora do voo.  
E 32 horas e 3 voos depois, lá estava eu, em Belo Horizonte, mas ainda sem saber se onde minha cabeça ficou, muito menos meu coração. Deu vontade de chorar ao abraçar minha família e vontade de chorar ao lembrar do que deixei pra trás. "Deixa de ser boba mulher, já fez isso tantas vezes!" Mas isso só torna as coisas mais difíceis. Nunca deixarei de sentir por aqueles que estão longe, agora tenho duas vidas, e é tarde demais para me desligar de qualquer uma delas; Já aceitei a minha sina, aceitei que sempre estarei com saudades de algo ou alguém, mas agora tenho a certeza que, não importa onde eu estiver, eu nunca estarei sozinha.