O que você precisa saber antes de ir pra San Blas - O esconderijo de La Casa de Papel



Chegou a tão esperada (por ninguém) hora de revelar tudo sobre o arquipélago de San Blas, o motivo que me fez ir para no Panamá, um país que eu pensava que não ia conhecer tão cedo. Esse lugar que mais parece descanso de tela do windows, o paraíso tão perto do Brasil, mas que poucos brasileiros ouviram falar.

Mas antes de explicar tudo, eu preciso dar alguns recadinhos do coração: Primeiro, eu entendo que esse destino não é pra qualquer pessoa, exige um pouco de desapego. Não tem internet, não tem água quente, a água é salobra, o banheiro é compartilhado, a acomodação tem chão de areia, a comida é feita pelos índios, tem energia elétrica por apenas algumas horas e é tudo BEM rústico. Tudo bem se não for seu tipo de viagem, não precisa se forçar a nada. San Blas só faz sentido se você estiver confortável com essas restrições, porque essa simplicidade extrema das ilhas e a convivência com os índios Kunas são partes super importantes da experiência. Se seu objetivo é só visitar belas praias, existem outros destinos tão belos quanto e com mais conforto.






Outro recadinho tem a ver com a conservação do lugar. Sim, lá vem a Luiza ecochata novamente. Na verdade esse ponto me fez pensar duas vezes antes de divulgar muito sobre San Blas. Entenda, San Blas parou no tempo, e isso é incrível. É uma comarca inteira governada pelo povo indígena Kuna, é uma região independente e o governo do Panamá não tem poder sobre a região. Isso significa que grande parte das ilhas é intocada, que a cultura Kuna ainda é bem preservada e que a natureza ainda não sofre com os efeitos do turismo em massa porque ainda é um local pouco explorado.



Acontece que o turismo pode, sim, destruir. Veja o que está acontecendo com Maya Bay na Tailândia, com Machu Picchu, entre outros lugares incríveis. Esse risco é ainda maior em San Blas porque as ilhas são minúsculas e o ecossistema é muito frágil. Isso significa que o impacto de um turismo irresponsável pode ser fatal para o lugar como conhecemos hoje. Não existe coleta de lixo nas ilhas, então precisamos tomar conta do nosso próprio lixo e levar de volta ao Panamá, os kunas são extremamente tímidos e precisamos respeitá-los, os corais são incrivelmente próximos das ilhas e precisamos preservá-los. A diversidade e a cultura das ilhas são muito fortes, mas são muito frágeis ao mesmo tempo, de maneira que eu tenho que medo do que o turismo em massa pode fazer com esse lugar especial. Mas ao mesmo tempo os próprios Kunas precisam do turismo por ser sua maior fonte de renda, então é preciso encontrar um equilíbrio, e cabe a nós, os visitantes, respeitar tudo o que San Blas oferece.

Bom, após refletir sobre esses pontos, se você ainda quer ir pra San Blas, vem comigo que eu te conto o caminho pro paraíso:




Como chegar?

Antes de qualquer coisa, é preciso entender que todo o turismo é realizado e controlado pelos kunas. Isso significa que todos os serviços são prestados por eles, mesmo se você contratar uma agência de turismo essa agência só faz a intermediação entre você e os índios.

Para chegar em San Blas você pode entrar em contato direto com as ilhas (existem blogs e guias que indicam telefones de contato) ou contratar uma agência. Nós optamos contratar uma agência já que a comunicação direta com os índios é meio precária. Caso você também prefira fechar com uma agência, a dica que dou é entrar em contato com hostels e hoteis para ver quais são as mais recomendadas. Foi assim que encontramos a Cacique Cruiser e eu não poderia estar mais satisfeita.

No nosso pacote estava incluso o transfer do nosso hostel na Cidade do Panamá até o porto dos Kunas. Esse trajeto é possível fazer com carro próprio, mas eu não recomendo porque a estrada é perigosíssima. Qualquer pacote que você fechar, seja com agência ou direto com os índios, te dá essa opção de transfer. Chegando no porto, tomamos um barco até a nossa ilha, também incluso no pacote. Simples assim. O trajeto todo demorou mais ou menos 4 horas.

Esse trajeto todo também pode ser feito de avião, mas obviamente é bem mais caro.



Onde ficar?

Primeiro você tem que decidir qual ilha quer ficar. Apesar de serem centenas, apenas 50 são habitadas e dessas a maioria é pelos kunas.

Pero Grande, Pero Chico, Chichime, Isla Franklin e Isla Diablo são as ilhas mais conhecidas e mais comuns para hospedagem. Nós ficamos na Isla Aroma, que é menos conhecida, e tivemos a oportunidade de conhecer as outras que mencionei aqui. Pelo que vimos a nossa era uma das mais vazias e tranquilas,  que era o que a gente queria. Tudo pode ser negociado com sua agência ou com os índios.

Apesar de bem rústico, San Blas oferece diferentes opções de hospedagem que são:

Cabana de palha com chão de areia: É a opção mais comum em San Blás. Bem simples. Paredes e teto de palha, chão de areia, cama, rede de mosquitos e nada mais. O banheiro é compartilhado com o restante das ilhas, inclusive com os kunas.



Cabana de madeira: Chão, paredes e teto de madeira. É menos rústica que a de palha, mas o banheiro também é compartilhado.

Cabana com banheiro privativo: Essas são mais raras e estão em ilhas específicas. São bem mais estruturadas que as anteriores e também mais caras.

Hospedagem em barco veleiro: Essa opção é a mais confortável, mas também a mais cara. É o único caso que não é 100% controlado pelos índios. Você fica hospedado em um veleiro e passa os dias entre diferentes ilhas, não ficando em apenas um lugar. É controlado pelo próprio dono do barco que faz os passeios e prepara a comida. São encontrados em sites como Booking e Airbnb.

Por último, existe a opção de day trip onde você sai da cidade da cidade do Panamá de manhã cedo, passa o dia nas ilhas e retorna no fim do dia. É uma opção para que não quer ficar nas ilhas ou que tem pouco tempo, mas eu particularmente acho a experiência de se hospedar no arquipélago uma parte importante da viagem



O que comer?

Como já disse, a comida, é toda fornecida pelos índios e já está inclusa, independente do pacote que você escolher pois não existem lojas ou restaurantes nas ilhas. É servido um café simples às 7:30, um almoço às 13h e o jantar às 18h. Comemos muito peixe, muito mesmo. Mariscos, polvo e frango também são bem frequentes, tudo acompanhado de arroz, bananas fritas ou batatas.

Levamos algumas barrinhas de cereais para comer entre refeições e nossa agência disponibilizava alguns snacks também. A única coisa que é possível comprar nas ilhas são bebidas como água de coco, cerveja, água e refrigerante. Fora isso, temos que levar da Cidade do Panamá se quisermos algo diferente.




Como é a convivência com os kunas?

No geral, bem tranquila. Muitos deles falam espanhol então é fácil de se virar. Apesar de muito tímidos, são muito respeitosos e parecem conviver em harmonia com o turismo. Nós tivemos a oportunidade de visitar uma das ilhas que é habitada exclusivamente por eles e conhecer um pouco mais da cultura.

Eles tem muito respeito pela terra e pela natureza, há também um forte senso de comunidade entre eles.



Como era a rotina na ilha?

A gente costumava acordar com o toque da concha para o café da manhã às 7:30. Comia ovos com pão, as vezes com um abacaxi também, e ia ler na rede. Por volta de 10 da manhã nosso barco chegava com os hospedes do dia e nos buscava para conhecer novas ilhas. Eram sempre duas ilhas diferentes para passeio, com muito mergulho e paisagens bonitas e uma para o almoço. Por volta de 15h voltávamos para nossa ilha. Algumas pessoas voltavam para o porto e a gente ficava curtindo a nossa prainha particular. A gente sempre tomava banho antes do sol se por pra não ter muito problema com a água fria, planejamento, né?

Às 18h era a hora do jantar e nos juntávamos aos outros viajantes. O jantar era sempre longo, cheio de conversas e jogos de cartas. Era nessa hora que a gente bebia uma cervejinha ou um vinho, só pra finalizar o dia bem. Durávamos algumas boas horas na messa de jantar jogando conversa fora e por volta de 21h já estávamos acabados indo dormir. Vida mansa, né?



Quanto tempo ficar?

Taí uma questão bem pessoal. Eu e Thiago optamos por ficar 5 dias, dormindo 4 noites na Isla Aroma, mas normalmente as pessoas ficam entre 1 e duas noites apenas.

Isso vai depender muito de quanto tempo a pessoa tem, de quanto tempo ela consegue ficar nas condições da ilha, o que ela quer conhecer e etc. A única coisa que eu recomendo é não fazer day trip no dia de ir embora da ilha, isso pode ser muito cansativo e é bacana deixar uma tarde para curtir a ilha que você está hospedado com tranquilidade.

Pelo tempo que passamos lá, nós conhecemos 12 ilhas diferentes e nunca ficou chato ou repetitivo. Eu ficaria até mais uma noite para passar mais um dia inteiro sem fazer nada na nossa ilha. No nosso caso a gente realmente queria descansar e curtir a imensidão isolada de San Blas, mas se seu intuito é só ver como é, uma noite é o suficiente.



O que levar?

Muito muito muito muito protetor solar. De rosto, de boca, de corpo. E ainda chapéus, se puder. O sol é muito forte e quase não tem abrigo. O máximo que você vai encontrar são sombras de palmeiras, o que não protege 100% do sol e muito menos do mormaço. Eu não fiquei vermelha nem ardendo, mas o sol foi tanto que acho que troquei minha pele inteira de tanto descascar, nunca vi isso na vida.

De roupa levei dois biquínis, duas camisas de manga comprida que usava de saída de praia, chinelo, coisas de banheiro e um short confortável para passar as noites. Levei também um tênis que foi super desnecessário e só serviu pra me fazer passar raiva.

Além disso, levamos lanternas e baterias extras. Apesar de ter energia, ela funciona apenas por algumas horas e as tomadas para recarregar câmeras e celulares são escassas e ficam na área comum, não nos quartos.

Por fim levamos algumas barrinhas de cereal, vinho e cerveja. Alguns tours não fornecem água potável, mas o nosso dava, então não precisamos preocupar em levar.



E quanto custa?

Aí vai depender do tempo que você vai ficar, qual o tour que você vai escolher, o tipo de acomodação e etc.

Via de regra se você fechar o pacote diretamente com os índios fica mais barato, mas como disse antes, a gente não queria ter dor de cabeça com essa parte.

Nós ficamos em uma cabana com chão de areia e banheiro compartilhado. Nosso pacote incluía 4 noites com 4 dias de passeios e um dia de descanso, todas as refeições, água a vontade, transporte entre ilhas, máscara de snorkel, snacks, guia local e transporte ida e volta para o hostel. Tudo ficou em 390 dólares por pessoa pela Cacique e eu não poderia estar mais satisfeita com o serviço deles. Sim, é bem rústico, mas tudo que eles entregaram era perfeito. Acomodações limpas, guias atenciosos, comida deliciosa e muita segurança. Não preciso mais nada além disso e por isso recomendo muito o Cacique Cruiser: https://caciquecruiser.com/





E aí? Deu vontade? Então se joga, porque esse lugar é especial demais!