La Paz: Muito perrengue pra uma cidade só
Acordamos satisfeitíssimas com a soneca de 13 horas e fomos
tomar café no próprio Hostel. Ainda no elevador conhecemos três meninas, uma da
Bahia, uma americana e uma de Floripa e elas estavam fazendo mais ou menos o
mesmo roteiro que a gente. Tomamos café da manhã juntas: ovos mexidos e chá de
folha de coca para aguentar a altitude.
Então fomos passear. Estava chovendo muito, usei minha
jaqueta impermeável pela primeira vez e descobri que era a melhor coisa que
poderia ter levado (usei muitas e muitas vezes depois). Não dava pra andar de
sombrinha naquela loucura de cidade, tinha muita barraca, muita chola
carregando o mundo nas costas, muita gente! Então fica a dica: jaquetinha
impermeável salva vidas, não precisa se importar em ficar feia de capuz
(meu caso).
Nossa ideia era ir ao Mercado das Bruxas fazer umas compras,
a Fafá inclusive queria comprar uma jaqueta impermeável porque ela usava uma sombrinha
que era uma ameaça pras outras pessoas. Saímos do hostel com algumas direções
na cabeça e um mapa na mão, o que logo percebemos que não adiantava em nada
porque a cidade não fazia sentido nenhum. O pior era o trânsito, uma bagunça!
Semáforo é uma coisa que não existe, preferência e faixa de pedestre então nem
se fala! O item mais importante do carro de um boliviano, inclusive, é a
buzina, sem ela eles não saber dirigir, o cinto de segurança é um mero
acessório decorativo (quando existe).
Enfim, fomos passeando pelas ruas lotadas e molhadas de La
Paz, perguntando direções e tomando um safanão de uma trouxa de chola vez ou
outra. Rodamos muito, subimos, descemos, entramos em mercados de rua que
vendiam de tudo, andamos sem parar, até que chegamos... no Loki! Isso mesmo,
andamos uma vida pra voltar pro mesmo lugar que partimos! Constatamos então que
1) não entendiamos nada de espanhol e 2) os bolivianos não sabiam dar direções.
Acabamos encontrando o tal mercado e de fato valeu muito a
pena. Os preços estavam muito bons e as coisas eram lindas demais, bem
coloridas e tradicionais. Compramos muito, mais que deveríamos na verdade, mas
ainda bem que era só o início da viagem e pensamos que não poderíamos encher
nossas mochilas assim de cara. E aqui vai uma dica, nunca aceite o primeiro
preço que eles te dão, os vendedores sempre jogam o preço lá no alto e
estão acostumados com pechincha. As meninas eram boas pra negociar preço, eu
era mais tímida, mas a estratégia de perguntar o preço e fazer cara feia me servia
bem também.
Depois das compras fomos fechar o passeio para o dia
seguinte. Era um pacote, a montanha Chacaltaya e Valle de La Luna no mesmo dia.
Pesquisamos muito, em várias agências de turismo e acabamos escolhendo uma que
dizia que as entradas dos parques estavam inclusas, além de um lanchinho, mas,
na verdade, era uma mentira bem gorda, só tinha transporte e guia. Aliás, nunca
acreditem quando falam em comida na Bolívia e Peru, é mais seguro levar a sua
própria porque é uma ilusão, o melhor é pegar a mais barata e mais
arrumadinha e pronto. Pagamos 90 bolivianos (30 reais), enquanto os outros
que conhecemos depois pagaram 60 (22 reais)
O último passeio do dia foi para o teleférico. Sabe esses
teleféricos que tem em algumas favelas do Rio? Então, era exatamente isso,
inclusive é um meio de transporte importante para os paceños. Custa 3
bolivianos (R$1,10) cada trecho e escolhemos a linha amarela que era a maior e
tinha um suposto mirante no fim. Foi uma experiência bem bacana, mas os nativos
não estavam curtindo muito a nossa presença. Mas também, era como se eu
estivesse no meu ônibus de todo dia, morta depois do trabalho, e um tanto de
gringo entrasse fazendo algazarra, tirando fotos e vestidos de araras dos pés à
cabeça (no nosso caso, vestíamos Lhamas dos pés à cabeça). O tal mirante
finalmente chegou e descobrimos que na verdade era um espaço entre duas casas
no alto de um morro bem feio, bacana né?
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O "mirante" |
De noite fomos para o bar comemorar o aniversário da
Fernandinha. Muita cerveja (quente), muita gente diferente e uma noite
sensacional. Eu me lembro de parar por um momento e pensar “Ok, não tem como
ser mais feliz que isso”.
Dia 4- 24/12: Um natal diferente
Na véspera de natal acordamos cedinho pra pegar a van às
7:30, mas depois de esperar 1 hora na recepção do hostel descobrimos que todos
do passeio foram avisados que sairíamos às 8:30, menos, claro, as três patetas
aqui. Quando finalmente entramos na van percebemos que éramos todos
brasileiros, a menina de floripa que havíamos conhecido na manhã anterior,
Samanta, inclusive.
O caminho para o Chacaltaya foi tenso, muitas curvas em uma
estradinha chinfrim, que cabia apenas algo bem menor do que a van em que
estávamos. Subimos MUITO. Meu corpo começou a ficar estranho por conta da
altitude e a Fernandinha começou a passar mal de imediato. Quando chegamos no
pé da montanha ela foi direto vomitar.
Começou, então, a temida caminhada. O lugar era maravilhoso!
Branquinho de neve (lembrando que era verão) e com umas montanhas sensacionais
ao redor. Logo na primeira subida senti que aquilo não seria nada fácil, eu não
conseguia respirar, mesmo com os quilos de folha de coca que tinha mascado pelo
caminho, era como se o ar não entrasse nos meus pulmões. A cada 5 passos eu era
obrigada a dar uma pausa. Fernandinha, Samanta e outro rapaz do nosso grupo não
deram conta e ficaram no pé da montanha. Eu e Fafá seguimos firme, ou
quase...pra falar a verdade eu só continuei andando porque estava cagada de
medo de ficar sozinha naquela imensidão de neve e me perder.
Então continuamos. A visão ficava escura, a cabeça doía, o
enjoo era terrível, mas a gente não parava de subir. Depois de muito custo, a
recompensa: uma das vistas mais lindas da minha vida. Havia uma lagoa bem
verdinha lá em baixo e ao redor as montanhas das Cordilheiras Real. Lá estava
eu, a 5.400 metros de altitude, feliz da vida por ter conseguido conquistar
aquilo. Eu fui a primeira a chegar, junto com o guia, e assim que cheguei e vi
aquela cena, tudo começou a ser coberto por uma neblina grossa, não deu tempo
de fotografar e os outros do grupo não conseguiram ver nada, triste.
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A descida: sambando na cara da sociedade |
A descida pareceu brincadeira de criança, desci sambando na
cara da altitude e durou bem menos tempo que a ida. Resgatamos os enfermos e
fomos para o Valle de La Luna.
Eu sinceramente não entendi porque eles fazem esses dois
passeios juntos, eles são completamente opostos um do outro. Chacaltaya tem
5.400 metros de altitude enquanto o vale não passa de 3.000. Sem contar que a
montanha tinha temperaturas negativas enquanto o vale estava um calor infinito.
Meu corpo não entendeu que bagunça era aquela.
O Valle de La Luna é um sítio arqueológico que se assemelha
com a superfície lunar. Foi uma caminha de apenas 45 minutos, mas o lugar é bem
impressionante. Logo depois retornamos ao Loki.
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A turma da van do Chacaltaya,,, |
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e no Valle de la Luna |
Por mais que não parecesse, era véspera de natal, e no hostel
iria rola uma festa chamada “Nightmare Before Christmas”, ou pesadelo antes do
natal, e foi basicamente isso. As pessoas estavam com os rostos pintados como
caveiras, drinks foram incendiados, as pessoas subiam em cima do balcão...nada
parecido com as minhas preces de natal em família de todo ano.
Após a festa as meninas foram pra uma boate com o resto do
hostel (inclusive funcionários), eu resolvi dormir porque dali a apenas 2 horas
teríamos que tomar o ônibus para um novo destino.