O maior tombo da minha vida
Dia 16 – 05/01: Parte 2- Valle de La Muerte
Marcamos de ir para o
Vale às 15:00 e nesse horário lá estávamos nós na agência. Tudo começou a
conspirar pra eu desistir daquela ideia. Primeiro de tudo: O lugar chama Vale
da Morte! Segundo: teríamos que chegar lá de bicicleta e sem guia, por nossa
conta mesmo. Terceiro: levaríamos as pranchas nas costas e elas eram enormes.
Quarto: vi umas meninas chegando do passeio todas esfoladas e com cara de
poucos amigos. Mesmo com tudo isso, meu espírito de aventureira falou mais alto
e lá fomos nós.
O início |
Eu comecei a me cansar de verdade. O sol judiava muito e eu
sentia minha pele pegando fogo. Tive que parar diversas vezes pra me recompor
porque nem todo o protetor solar e água do mundo estavam me ajudando mais.
Depois de MUITO custo, chegamos às dunas.
Essa parte foi muito divertida. Tínhamos que subir as dunas
andando, o que cansava, mas descer de board era super legal. Nunca tinha feito
nada do tipo e foi uma experiência e tanto. Sem contar que do alto das dunas a
vista era surreal! Imagina, eu, ali do meio do deserto do Atacama, com duas
grandes amigas e três novos amigos, experimentando um esporte novo, com um
visual inacreditável e sem a menos preocupação na cabeça. Pra mim, isso que é
paraíso!
Ficamos lá umas boas horas curtindo o sandboard e esperando o
sol melhorar um pouco. Por volta de 18:30 resolvemos voltar para a cidade. Como
a volta era toda descida e o sol estava baixo, meus problemas pareciam ter
acabado.
Eu estava super animada descendo pelas pedras quando tive a
brilhante ideia de tirar uma foto do momento e fui pegar minha GoPro no bolso.
Parece uma péssima ideia, claro, mas eu estava me achando a fodona dos pedais e
já tinha feito isso diversas vezes na ida. Acontece que dessa vez era uma
descida considerável, minha bike estava bem embicada pra baixo e quando
inclinei pra pegar a câmera não deu outra: o peso da prancha foi pra frente, eu
passei por cima da bicicleta, me soltei dela e pronto!! Não lembro de mais
nada!
Acordei com um berro da Samantha e uma dor imensa por todo
lado direito do corpo. Eu tinha caído no chão, e feio, bem em cima de uma
pedra. Eu não consegui me virar por causa da prancha e fiquei ali, imóvel de
cara na terra até alguém tirou meu board e me virou. Pro meu desespero eu não
conseguia falar nada, pior, eu não conseguia respirar. Da minha boca só saíam
gemidos e meus pulmões pareciam estar esmagados.
Fiquei ali não sei quanto tempo. Tiraram meu capacete e
Fernandinha falou que meu olhar estava vidrado e eu não falava nada com nada.
Finalmente voltei a respirar normalmente e voltei a mim. Senti uma dor enorme
na costela direita, percebi que minhas pernas e braços estavam sangrando e
minha mão direita doía muito.
Meu primeiro impulso foi levantar na mesma hora e voltar pras
bicicletas pra chegar logo em casa, mas todo mundo me segurou e logo Fafá
chegou berrando em uma caminhonete. Segundo ela, assim que me viu cair, saiu
correndo feito uma louca atrás de ajuda e achou um Austríaco super gracinha pra
me levar pra cidade.
Já dentro do carro, eu sentia uma dor constante na costela e
a cada lombada da estrada era um sofrimento maior. Eu tentava ser simpática com
o meu salvador, mas falar inglês enquanto tentava não gritar de dor estava
muito difícil. Ele nos deixou na agência e um dos funcionários nos levou até o
hospital, ele ainda carregou minha mochila nas costas, um fofo.
O hospital era, na verdade, um postinho de saúde. Eu estava
com medo de ter quebrado alguma coisa, minha mão e minha costela não estavam
normais. Uma senhora me examinou e disse que não havia quebrado nada, mas que
minha costela estava trincada. Disse que não havia nada a ser feito, eu só não
podia fazer nada com muito movimento e nem levantar peso. Beleza né, eu tinha
uma mochila de 10 quilos pra carregar e 10 dias de viagem pela frente,
incompatível com o prognóstico dela.
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Uma homenagem que os meninos fizeram ao meu tombinho |
Fui pro hostel com uma vontade de vomitar incontrolável e
ainda toda suja de terra. Repousei pelo resto do dia pensando se eu ia
conseguir chegar no Brasil inteira.