Como Juntar Dinheiro Para Viajar? Parte 02


Lição nº 03
Guardar sempre para viajar mais

O terceiro mochilão parecia que não viria tão cedo. Eu estava ralando de verdade para conseguir formar na faculdade e mudei algumas vezes de estágio. Não dava pra saber quando teria férias ou se teria um tempo para planejar uma viagem.

Nesse momento eu já tinha adquirido um hábito bem sólido de guardar dinheiro. Sabia exatamente quanto dava pra guardar todos os meses e assim que o salário caía na conta eu já mandava a parte reservada pra viagem direto pra poupança e não mexia mais lá. Era como um boleto que vencia no mesmo dia do meu pagamento e eu nem contava mais com esse dinheiro pra viver.

Agora, como eu não tinha nada planejado eu poderia parar de guardar dinheiro, certo? Errado! Apesar de não ter perspectivas de viagens eu continuei guardando a mesma quantidade de sempre, afinal, já estava acostumada a viver com o dinheiro que me sobrava e já estava habituada a economizar, por que não continuar?

Foi então que em Março de 2017, depois de 1 ano e 3 meses juntando dinheiro sem saber pra que, surgiu uma oportunidade: uma amiga tinha acabado de se mudar pra Israel e nos convidou para visitá-la dali a poucos meses. Que tal?

A lição anterior de ser flexível também veio à tona e achei uma super promoção para Paris passando pelo Marrocos. Depois era só achar o trecho para Tel Aviv e assim surgiu o roteiro Casablanca, Paris, Israel e Jordânia em julho de 2017 (já falei que meus roteiros são meio loucos?).

Essa, sem dúvida alguma, foi uma das viagens mais espetaculares que já fiz na vida, e ela só se tornou possível porque eu já tinha dinheiro guardado para ela há mais de um ano! Se não tivesse, não daria pra juntar todo o dinheiro em apenas 4 meses.

Aí que está o segredo: eu nunca tenho o dinheiro todo para pagar uma viagem de uma vez, mas todo o mês, religiosamente, eu deposito uma pequena quantia fixa, que ao final se transforma em uma super experiência. É o meu famoso fundo de viagem que serve tanto para as viagens que planejo, quanto para não perder as oportunidades que aparecem na minha vida.



Lição nº 04
A vida não é só viajar, menina!

Voltando do oriente médio parece que a realidade me deu uma paulada na testa e me derrubou de uma vez. Eu estava sem emprego, sem diploma e sem um centavo na conta corrente. Até quando é viável viver assim?

Aquela história de que viagem é a única coisa que você compra e te faz mais rica é uma grande verdade, mas as minhas experiências não estavam pagando as minhas contas.

Foram meses que passei no aperto, aperto tanto para formar quanto pra fazer as coisas normais da vida. Viajar nem passava mais pela minha cabeça, eu precisava era de amadurecer.

Com muito custo formei no fim do ano e arrumei um emprego, ambos praticamente ao mesmo tempo e, apesar de usar o meu primeiro salário pra quitar dívidas, passei a olhar pro meu dinheiro de uma forma diferente.

Eu já não sofria pra guardar uma parcela do meu salário mensalmente, mas não podia raspar a conta do banco toda vez que saía do país e recomeçar tudo do zero sempre que voltava. Era preciso pensar no futuro de longo prazo também e não apenas na próxima viagem.

Foi aí que passei a estudar sobre investimentos. “Mas meu deus do céu, que chatice, não acredito que vou ter que ler sobre isso aqui também”. Pois é, migos, essa sempre foi minha reação ao ouvir a palavra “Investimento”. Eu não tinha ideia do que se tratava e nem queria saber como investir, estava muito feliz com a minha pobre poupança.

Até que descobri que tinha como fazer o “dinheiro trabalhar pra mim”, que todo meu esforço pra juntar dinheiro seria muito melhor recompensado se eu soubesse onde colocá-lo, e percebi que, na prática, era bem mais simples do que eu imaginava. Aquela menina que nem sabia o que era taxa básica de juros hoje já estuda sobre a bolsa de valores, e tudo começou com alguns vídeos no YouTube.

Revi todos os meus gastos, coloquei na ponta do lápis tudo o que era supérfluo e o que era essencial na minha vida, cortei despesas e cheguei a uma conclusão de quanto poderia guardar exclusivamente para viajar e quanto guardaria para a “adultar”. Determinei a porcentagem do meu salário que iria para cada coisa e passei a investir esse valor mensalmente, sem perder um mês. E, de novo, sem ter a menor ideia de quando seria a próxima viagem.

Em fevereiro desse ano, um ano e oito meses depois de Israel, fui para Moçambique e África do Sul. Pela primeira vez na vida voltei de uma viagem com dinheiro, tanto no meu fundo de viagens, quanto no fundo de Luiza adulta.


Lição nº 05
As coisas fogem do planejado, e tá tudo bem

Depois de tanto esforço, de abrir mão de tanta coisa, depois de estudar muito e criar uma relação melhor com meu dinheiro, apenas 4 meses depois da África eu já tinha o dinheiro para ir para o Panamá.

Planejei, fiz as reservas como sempre, paguei tudo com antecedência, levei o dinheiro certinho para não precisar de nem usar carão de crédito e...deu tudo errado.

O Panamá era MUITO mais caro do que imaginei e, o pior, a economia é toda dolarizada, com dólar a nada menos que R$ 4,14. É de chorar no escuro e chamar a mãe, não é?

Não precisei de mais que um dia pra perceber que a minha conta estava toda errada, que os 60 dólares que separei por dia mal pagavam duas refeições naquele lugar.

Em outras épocas eu tiraria o pé do acelerador e passaria alguns dias comendo fast food e não compraria nem um imã de geladeira, mas na vida fora da viagem eu tinha me planejado tão bem que o estouro no orçamento da viagem não ia me comprometer em quase nada. Eu queria que tivesse saído mais barato? Claro que sim, mas eu fui tão bem controlada até ali que quando as coisas saíram do meu controle ficou tudo bem.

Dentre tantos tipos maravilhosos de viajantes que encontramos por aí, acho que sou do tipo que não quer largar tudo pra viajar agora, aquele que tem o espírito livre e um senso de responsabilidade, tudo ao mesmo tempo. Que quer realizar seus sonhos de viagem e os profissionais também. Que viaja barato por opção e não deixa de fazer tudo o que quer em um mochilão. Uma viajante que vai para lugares que nunca imaginou e aceita o que o destino apresenta.

Viajar é um aprendizado constante, e eu estou apenas começando.